quinta-feira, 13 de março de 2008

Você sabe o que é Diabulimia?


Diabulimia é um termo novo. “A definição foi criada em 2005 e caracteriza adolescentes ou adultos que objetivam controlar ou perder peso manipulando a dose de insulina. Este transtorno presente no paciente com diabetes é estudado desde a década de 80”, informa a Dra. Cláudia Pieper.
A diabulimia é uma desordem alimentar específica que afeta principalmente as pessoas com diabetes tipo 1. A manipulação da dose de insulina é um dos meios usados para perder peso. Quando as injeções de insulina são suspensas, o nível de açúcar no sangue fica elevado e as conseqüências são: boca seca, perda de peso, aumento do desejo de urinar e, como conseqüência mais grave, o quadro de cetoacidose diabética.
Isto pode ocorrer porque quem tem diabetes tipo 1 necessita de injeções contínuas de insulina. Sem ela no sangue, o corpo não pode utilizar os alimentos como fonte de energia e a maior parte das colorias ingeridas se perdem. Na falta da energia necessária, o organismo acaba utilizando suas reservas de gordura para produzi-la.
Além disso, a Dra. Cláudia Pieper, consultora do site da SBD, adverte que em adolescentes com diabulimia podem ocorrer também complicações crônicas mais precocemente, como, por exemplo, a retinopatia diabética, já que a hemoglobina glicada não consegue se manter dentro da meta.
A linha entre anorexia, bulimia e transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) é muito tênue. Quem tem bulimia pode ter fases de anorexia. Pode ainda ser acometida por um desses transtornos antes mesmo de saber que tem diabetes. Como no caso de Ester, mãe de uma adolescente de 12 anos, que contou que, antes de ter diabetes, tinha bulimia. Ela convive com isso há 20 anos.
- Tomei consciência de que era uma pessoa doente há cerca de 3 anos. Percebi que, quando me olhava no espelho, via uma pessoa enorme de gorda, mesmo usando calça tamanho 34. Percebi que não poderia parar com a bulimia a hora que eu quisesse. Sim, porque eu estava como um viciado em drogas: comecei por "brincadeira", achando que poderia parar quando quisesse, mas me deparei com a triste realidade de que não era bem assim, relatou.
Já N., 20 anos, disse que tem fases: “Às vezes consigo parar de comer, quase completamente. Aí consumo, no máximo, 200 calorias por dia. Mas há períodos em que como muito. As 'fases' duram meses. Quando estou comendo muito tomo diurético e laxante e, claro, nem me preocupo com a taxa de açúcar no sangue. O problema é que o diurético provoca hiperglicemia, além do lado bom, que é desinchar”.

O Ideal de Beleza e o Preço

Elas são jovens e querem ser magras e belas. Suas referências são modelos e atrizes como: Gisele Bündchen, Adriana Lima, Paris Hilton e Yasmin Brunet. Na busca de atingir um ideal de beleza e perder peso, meninas e meninos podem desenvolver, além da diabulimia, complicações como anorexia, bulimia - transtornos alimentares que afetam especialmente adolescentes, a maioria mulheres.
P., 19 anos, diz: “Eu tenho bulimia e já tive anorexia. É muito difícil falar sobre isso. Quando me perguntam sobre a doença, respondo superficialmente, sempre com muita vergonha. Não sei mais o que fazer. Já procurei um psiquiatra, tomo vários remédios, mas a vontade de vomitar, a angústia, a sensação de culpa e o complexo de inferioridade insistem em me castigar. Ninguém sabe o que passo. A única forma de descarregar as minhas angústias, os meus medos, os meus fracassos é vomitando ou deixando de comer. Assim consigo passar por tudo isso, ser forte e bem aceita na sociedade”.
Relatos como esse são comuns entre as quase 100 comunidades criadas no Orkut para discutir os transtornos alimentares. Depois de conhecer um pouco de cada uma e acompanhar os tópicos de discussão, foi possível localizar jovens que aceitassem falar para esta reportagem. Algumas entrevistadas pediram para não serem identificadas.
Muitas meninas deixam claro que têm vergonha de admitir terem um transtorno alimentar, que o diálogo com os pais é difícil e uma das vias que encontram para compartilhar suas experiências e anseios é a internet. Essas adolescentes estão à procura da mesma coisa: ajuda.
De onde vem a busca incessante por um ideal de beleza e pela perda de peso? Para a Dra. Cláudia Pieper, existem alguns fatores que podem influenciar, como a existência de um núcleo familiar problemático, onde um dos filhos passa a ser “a válvula de escape” deste relacionamento do grupo, apresentando um transtorno alimentar. É claro que isso só ocorre quando existem fatores psicológicos predisponentes para tal. Uma mãe com compulsão alimentar, por exemplo, pode vir a ter uma filha anoréxica. Outros fatores importantes são a influência da mídia e dos amigos.

Das Novelas à Vida Real

Cobras & Largartos e Páginas da Vida, novelas da Rede Globo, estão abordando a questão dos transtornos alimentares. Na primeira, a personagem Júlia (Luiza Mariani), que é chef de um bistrô, tem anorexia. Em Páginas da Vida, a Anna (Deborah Evelyn) é uma professora do Ensino Médio, bailarina frustrada e mãe de comportamento compulsivo. Ela obriga a filha Giselle,10 anos, a freqüentar aulas de balé, tem pavor que a menina engorde e a vigia permanentemente.
O predomínio da imagem ideal da mulher magérrima vem se estabelecendo desde a década de 70. Em outras épocas, a mulher podia ser “cheinha”, a exemplo das retratadas pelo pintor colombiano Fernando Botero (1932). Nos lugares onde a comida era escassa, ser gordo indicava prosperidade. Uma mulher gordinha era associada a uma família rica, que possuía comida em abundância.
Hoje, as adolescentes com diabetes tipo 1 sofrem dupla pressão: devem cuidar do que comem por causa da disfunção e, por outro lado, têm a cobrança social e cultural, exigindo que elas estejam mais magras do que seu corpo permite.
O conselho da Dra. Claudia é que os transtornos alimentares devem ser tratados por uma equipe multidisciplinar: psicólogo, nutricionista, endocrinologista e psiquiatra. Mas não basta isso; é importante que a família se trate e faça terapia junto com os filhos.
“É válido que as novelas abordem o tema. Se as informações forem dadas corretamente, poderão ajudar os pais a procurarem ajuda profissional. Em 2006, houve aumento do número de jovens com transtornos. Dados da literatura internacional revelam que 16% dos jovens com diabetes, com idade entre 13 e 21 anos, têm algum tipo de transtorno alimentar e, portanto, dificuldade para controlar as glicemias. Em vez da busca pela beleza, deveria haver a busca pela saúde”, acrescentou a endocrinologista.

Texto extraído e adaptado a partir do site da Sociedade Brasileira de Diabetes.

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